sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quem é Mariana, onde fica? Mariana já era, e não fica propriamente...

O cigarro dele meio apagado no chão, minha angústia ainda queimando por dentro. A vontade de conversar era grande; não fosse pelo garoto entre nós, não fosse pelo ponto cheio de gente e de desdém, eu teria começado a falar, já que ele nunca pára. É engraçado, porque tenho vontade de ouvir Piauí assim como gostaria que me ouvissem: seria capaz de passar uma tarde inteira tentando desvendar todos os mistérios de sua mente, conhecer suas teorias mais absurdas, ouvir suas mais antigas memórias (se é que ele ainda as guarda) até que ele cansasse de falar. Nada disso por obrigação, para classificá-lo ou julgá-lo, mas pela mais inocente e pura curiosidade, e -- aqui, sim -- pela necessidade de conhecer-me, localizar-me, entender-me; de descobrir as razões da dor que aprendi a domar (da pior forma possível), mas que nunca sara.
Minha carona chegou, eu calei meus pensamentos; o cigarro apagou e foi varrido pelo vento. A mágoa ficou.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Number one's gonna be number one

O escrito foi, mas a lista ficou. Ainda espero por alguém que me apresente um motivo para jogá-la fora, mesmo não precisando dele; afinal, ela só está lá, não implora para ficar.
Eu tenho esse mau hábito de guardar, fora ou dentro de mim, coisas que aparentemente não servem para nada. A única utilidade que encontro para elas é a lembrança. No caso da lista, de que talvez eu não deva reclamar tanto, de que talvez tudo esteja bem, que eu esteja exagerando. Mas se eu pudesse, e se cada unidade relacionada existisse de fato, eu não me contentaria com a lembrança; faria também perguntas. Ou melhor, uma só pergunta, a que mais me atormenta, que me tira o sono, que me arranca lágrimas toda noite: mesmo sabendo, por que escolhemos sofrer tanto?

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Índice telefônico

Já perdi a conta de quantas vezes pensei em sumir, só para verificar se faço alguma falta, alguma diferença. Se quando eu era menor fazia meus próprios recortes, com medo de que os outros fugissem, hoje, ao tentar juntar meus pedaços, vejo que as pessoas continuam fazendo o trabalho do qual haviam sido poupadas por mim: me idealizando, recortando e, por fim, fugindo -- lenta e dolorosamente.
Eu costumava existir como cinco ou seis, mesmo sendo somente uma: a mais desconhecida, talvez até para mim. O maior problema em me aceitar como uma só (assim como sempre aceitei os outros, inteiros, com todas as imperfeições) é ter de lidar com a negligência, a frieza; com o fato de que, mesmo tentando, nunca é o bastante, nunca é suficiente. Acho que isso é o que machuca: ver o medo de outrora se concretizando -- medo que, querendo ou não, já era realidade, porque cinco ou seis incompletas só servem para cinco ou seis ocasiões; o resto é ausência, de tudo. Medo que eu fingia esquecer.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Verbete

Da sacada, cobertura, da janela
grade, muro e rede
viram ilusão
quando o corpo,
que pesa com a falta,
v
e
r
t
i
g
i
n
o
s
a
m
e
n
t
e
se acomoda
no chão.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Segunda-feira, 05 de dezembro de 2011

(...)

Sei que eu rasgava a pele na grade da quadra, cortava os joelhos no chão, brincava na rua até "tarde" e tomava sorvete depois do café da manhã. Mas entender a importância dessas coisas todas para mim foi aqui -- tarde ou cedo demais, de que importa? Hoje eu sinto com o que fui e o que sou aqui, e espero sempre ser um misto das duas coisas, para que a inocência e curiosidade de possam guiar a consciência e sensibilidade daqui.
(Mas bem que eu queria que dormir depois das dez ainda fosse motivo de espanto!)